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Aporte ao Debate: O PSOL e as Eleições de 2026 no RN


 

 

Na próxima eleição fará 20 anos que o PSOL estreou nas disputas eleitorais no Rio Grande do Norte. Em 2006 o partido alcançou a terceira colocação na disputa pela Presidência da República com Heloísa Helena, tanto em nível nacional com 6,5 milhões de votos, quanto no RN com mais de 81 mil votos. O partido também alcançou a terceira colocação com Sandro Pimentel ao Governo do Estado.  

 

O pleito de 2006 provou que candidaturas majoritárias que ousassem disputar a indignação da sociedade poderiam capitanear resultados eleitorais significativos. A campanha de Heloísa Helena feita em avião comercial rodando o Brasil  registrou um gasto módico: R$ 266 mil, mas denunciou os erros do primeiro Governo Lula, sem se confundir com a direita neoliberal e conquistou um resultado eleitoral estrondoso. Sandro em 2006 teve 14 mil votos sem nenhuma estrutura e menos de R$ 4 mil em gastos estimados.

 

De 2006 pra hoje não se passaram apenas duas décadas, as transformações no terreno político-eleitoral foram muitas e em várias esferas: a legislação eleitoral sofreu diversas alterações, as Big Tech passaram a influenciar pesadamente os resultados das eleições,  partidos desapareceram e outros surgiram, a extrema-direita ganhou peso de massas, e o próprio PSOL mudou tornando-se hoje o partido de esquerda mais relevante do país depois do Partido dos Trabalhadores, ganhando estrutura financeira e por força da narrativa da “luta contra o bolsonarismo” aproximando-se do PT e da Frente Popular, o que descaracteriza o seu sentido funcional: a superação da experiência petista pela esquerda, sem conciliação de classes e acordos com a burguesia.

O que não mudou no último período foi o modus operandi do PT hegemonizando o campo democrático-popular, no Brasil e no RN. Se é  verdade que PV e PCdoB preservaram suas existências frente a clausula de barreira com a Federação Brasil da Esperança também é fato que ambos tem saído menores das urnas e tem perdido influência e relevância. O PCdoB, por exemplo, perdeu a vice-governadoria e seu mandato na capital no RN.  Nesse sentido é fundamental preservar o PSOL desse risco e mantê-lo distante do hegemonismo petista, não contaminando o partido pela alta reprovação do Governo Fátima Bezerra.

O PT que lançou o secretário de Estado Cadu Xavier como pré-candidato à governador tem visto que seu postulante não consegue escalar os dois dígitos nas pesquisas eleitorais. PCdoB e PV, não foram consultados sobre a escolha do nome que foi decisão unilateral de Fátima Bezerra. A candidatura tática de Cadu tem como intenção ocupar um vazio no espectro político, “defender o legado do Governo da Professora-governadora” e servir posteriormente como mecanismo de manobra e barganha para fortalecer o retorno de Fátima ao Senado Federal. O PSOL não deve embarcar nesse projeto por razões  de principio: uma eventual aliança com o PT também significará um acordo com o PMDB e a oligarquia Alves.

 

O PSOL que sempre lançou candidaturas ao Governo do Estado desde 2006 deve manter essa tradição para demarcar politicamente com o PT e ter uma voz nos debates que agitem as bandeiras históricas do partido, chame voto nas candidaturas socialistas e faça as denuncias necessárias como a crise ambiental que atinge o Rio Grande do Norte e em especial a região do Vale do Assú onde registra-se o maior patamar de desmatamento do Brasil em virtude das instalações de energias renováveis [1]. Já tivemos cinco candidatos ao Governo do Estado (como mostra o quadro abaixo) e em 2026 é hora de termos mais uma candidatura ao governo estadual.

Quadro de Votações do PSOL ao Governo do Estado no RN (2006-2022)

Ano Eleitoral:

 

Candidato:

Votação:

Eleições 2006

Sandro de Oliveira Pimentel

14172

Eleições 2010

Sandro de Oliveira Pimentel

10520

Eleições 2014

Robério Paulino Rodrigues

129616

Eleições 2018

Carlos Alberto Freire Medeiros

31306

Eleições 2022

Danniel Alexandre Ferreira de Morais

3691

Candidaturas majoritárias – tanto ao Governo quanto ao Senado – ajudam eleitoralmente as chapas proporcionais, mas além disso também são necessárias frente o grande vácuo que está posto na conjuntura regional: não existem candidaturas socialistas colocadas e as candidaturas da esquerda da ordem (ou ditas progressistas) são nos levam a lugar nenhum. Cadu Xavier patina nas pesquisas, Fátima Bezerra que vem ao Senado tem uma rejeição colossal a seu Governo, Zenaide Maia pertence a uma oligarquia regional e lidera o PSD que compõe o Centrão em Brasília. Tirar o PSOL das disputas majoritárias é negar ao cidadão potiguar uma opção crítica.

Apoiar Cadu Xavier seria apoiar uma candidatura que inevitavelmente herdará o desgaste do Governo Fátima Bezerra. Dito isso, importante demarcar com clareza que que a principal oportunidade eleitoral para o PSOL nestas eleições é eleger um deputado estadual e retomar a sua cadeira na Assembleia. Nesse sentido, estar distante da rejeição do Governo Fátima é fundamental. São os deputados estaduais que dão sustentabilidade aos governos estaduais e candidaturas proporcionais que estejam num arco de alianças com o PT-PMDB também herdarão essa rejeição.

Apesar do investimento enorme em recuperação de estradas, a rejeição ao Governo do RN continua altíssima. É fato que os efeitos da investida poderá aparecer mais adiante, tornando Fátima mais competitiva ao Senado e o Governo menos rejeitado.  O Governo lançou nesta quinta-feira (03 de julho) a segunda etapa do programa que vai recuperar 664,8 quilômetros de rodovias da malha estadual totalizando 38 trechos rodoviários, abrangendo todas as regiões do Rio Grande do Norte com um  investimento estimado em R$ 651,5 milhões [2]. Hoje por hoje, o Governo não reverteu esse quadro de rejeição. Abaixo o quadro de rejeição subsequentemente em 2024 e 2025 por institutos de pesquisa distintos:



Apenas três dias depois do anúncio feito pelo Governo do RN, registrou-se mais uma morte trágica ocorrida em virtude das péssimas condições da malha rodoviária potiguar. A jovem Bruna Maria de apenas 27 anos, perdeu a vida de forma brutal durante tentativa de assalto na estrada que liga o distrito de Gravatá à Ceará-Mirim. O veiculo em que ela estava foi abordado por criminosos em um trecho esburacado da estrada. Bruna foi alvejada e veio a óbito. A tragédia escancara o abandono de uma estrada que há anos está em péssimo estado, o governo estadual promete a recuperação do trecho há anos, mas nada foi feito até hoje. O fato dos investimentos mais vultosos estarem chegando ao final do mandato também podem afetar a popularidade do Governo.

 

A partir de abril do próximo ano o Governo do Estado estará nas mãos de Walter Alves que assumirá o comando da máquina estadual e deverá fazer mudanças substantivas em quase toda cadeia de comando governamental visando fortalecer as bases eleitorais do PMDB para ampliar a influência do partido no Estado e no parlamento estadual e federal. Embora não seja provável, por se tratar de um ano eleitoral, a depender da política de austeridade fiscal que será aplicada, os pisos constitucionais da educação e saúde já podrão entrar na mira dos cortes e lançar a luta de classes em um novo patamar no RN, frente os ataques que poderão vir. Se esse cenário não confirma-se, de qualquer modo, alinhar-se a um ALVES a pretexto de defender uma frente eleitoral com o PT no RN, não parece ser o caminho mais saudável ao PSOL e poderá liquidificar definitivamente o nosso partido como uma opção crítica e de esquerda para os mais de 3 milhões de potiguares.


Oportunidades, desafios e o dever de casa: 2025 antes de 2026

 

Faltam apenas um ano e três meses para as eleições de 2026 e é fato que pouco ou quase nada tem sido discutido nas instâncias do PSOL sobre pleito eleitoral, tanto que a primeira reunião do Diretório Estadual para debater o tema está marcada para o próximo domingo (13 de julho).

 

Na imprensa o único quadro do partido a falar de eleições tem sido a vereadora da capital, Thabatta Pimenta que se colocou como pré-candidata ao Governo do RN, mas deixou em aberto a possibilidade de ser candidata ao parlamento estadual ou a Câmara dos Deputados. Em recente entrevista a 96 Fm a parlamentar do PSOL ainda adiantou seu primeiro voto ao Senado em Zenaide Maia do PSD, deixando em aberto a possibilidade de votar em Fátima Bezerra também, embora tenha dito que “não conversou ainda” com a governadora. Na realidade, nossa parlamentar deveria dialogar primeiro com o próprio partido antes de emprestar seu prestigio e visibilidade a candidaturas que não estejam alinhadas a linha programática do PSOL.

O tempo é implacável e caso o PSOL não queira ser coadjuvante nas eleições de 2026 precisa acelerar o passo e enfrentar o grande desafio de fazer o dever de casa para chegar em condições competitivas no próximo ano.  O primeiro passo nesse sentido é abrir o debate, convencermos que candidaturas majoritárias precisam ser apresentadas pelo partido com o máximo de unidade possível e aproveitar a oportunidade de buscar retomar o mandato na Assembleia Legislativa como já apontamos em artigo no Saiba Mais quando defendemos de forma pragmática que Thabatta e as principais figuras públicas saiam candidatos ao parlamento estadual [3].

Essa é só parte do dever de casa. A outra parte consiste em aproveitar o segundo semestre de 2025 para (aproveitando o acúmulo programático das últimas eleições) ir discutindo nas cidades e regiões  com especialistas de distintas áreas e o melhor da inteligência prática do nosso povo, um Programa do PSOL potiguar ao Governo e ao Senado, diagnosticando as principais problemas e dilemas e apresentando um conjunto de propostas que possa ser abraçada pelas candidaturas e a militância do partido. Esse movimento poderia ocorrer juntamente com as Plenárias de Atualização Programática que já vem ocorrendo em algumas cidades.

 

O fato de nenhuma candidatura majoritária do PSOL aparecer nas pesquisas eleitorais encobre o potencial eleitoral do partido e abre uma avenida para a candidatura do petismo (Cadu Xavier) ocupar todo campo da esquerda. Fátima tem agido como lobista das empresas de energias renováveis no cenário internacional, enquanto o RN e o mundo vive as consequências de uma crise climática sem precedentes. Somente uma candidatura do PSOL teria condições de enfrentar essa discussão nos debates apontando que a saída é sempre pela esquerda e não pelo progressismo social-democrata de conciliação com as elites. Nestes termos, também buscar a unidade da esquerda socialista com quem deseja somar-se é fundamental, abrindo diálogos com PCB e UP.

 

Neste momento em que a Ministra de Relações Institucionais do Governo Lula (Gleise Hoffman) repudia “ataques pessoais” ao presidente da Câmara Hugo Motta, é preciso tomar um caminho contrário. Após mais uma semana de tensão entre Planalto e Congresso, o Governo Federal liberou R$ 2,5 bilhões em emendas parlamentares impositivas, elevando o total empenhado em 2025 para R$ 5,6 bilhões e beneficiando diretamente o Centrão e a Direita [4].



Nesse momento, figuras públicas e eventuais candidaturas majoritárias do PSOL devém convocar as mobilizações pela taxação dos bilionários e super-ricos e denunciar o Congresso como inimigo do povo, mostrando também a insuficiência da política econômica do Governo Lula com o arcabouço fiscal que levará o país a incapacidade de sustentar os pisos constitucionais da educação e da saúde já em 2030. O PSOL deve somar-se as convocações para os atos do da 10 de julho, mas ir além destes atos com uma política que enfrente a austeridade por completo e não pela metade.

Para enfrentar os desafios de 2026 é preciso fazer o dever de casa de 2025 e isso passa por iniciar esse debate. Nestes termos, consideramos que a Reunião do Diretório Estadual deve aprovar como Orientação Partidária as seguintes diretrizes:

 

1º.  O PSOL deverá ter candidatura própria ao Governo do Estado e ao Senado Federal nas eleições de 2026.

2º. O PSOL terá como prioridade eleitoral a eleição de um deputado estadual na Assembleia Legislativa nas eleições de 2026.

3º.  O debate sobre tática eleitoral, programa político e a definição de candidaturas majoritárias deve começar no segundo semestre de 2025.

4º. O PSOL deverá buscar construir uma Frente Eleitoral da Esquerda Socialista com PCB e UP. 



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