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Um balanço do 59º CONUNE: O movimento estudantil precisa superar a direção burocrática

Por Juventude da Revolução Socialista


A Juventude da Revolução Socialista concluiu no último domingo (16) sua primeira participação no Congresso da União Nacional dos Estudantes, em sua 59º edição. Foi uma vitória termos conseguido chegar até Brasília, tendo clareza das dificuldades de ser uma corrente que está iniciando seu trabalho na juventude universitária. Batalhamos, durante os quatro dias de congresso, pela unidade da Oposição de Esquerda, mas é evidente que este setor saiu do Conune enfraquecido e faremos o balanço nas linhas seguintes.


Este foi o primeiro Congresso da UNE realizado de forma presencial pós-pandemia. No 58º Conune, de 2021, todas as discussões foram feitas online, e a escolha da nova diretoria se deu sem votação, renovando as cadeiras com base na eleição de 2019.


Foi também o primeiro congresso desde que o progressismo retornou à Presidência, com a vitória de Lula no ano passado. Este cenário serviu para pensar qual a UNE queremos para o próximo período, ensejando a necessidade de uma entidade com independência frente aos governos de plantão e a consequente radicalidade para se posicionar frente às medidas adotadas pelo Executivo que ferem as universidades, institutos federais e a educação.


Desde já, a política de frente ampla levada a cabo pela majoritária (PCdoB, PT e Levante) se mostrou presente. No primeiro dia, um dos convidados foi o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, que já determinou a suspensão do pagamento do piso da Enfermagem e votou pela prisão de Lula. Apesar de suas posições contra a classe trabalhadora, o ministro foi saudado e reverenciado pela direção majoritária da UNE, evidenciando seu papel conciliador na luta de classes.


O próprio Lula foi o convidado de honra do 59º Conune. A Juventude da Revolução Socialista foi parte daquelas e daqueles que o ajudaram a se eleger presidente e a derrotar Bolsonaro. Entretanto, não esquecemos que sua eleição se deu reabilitando politicamente Geraldo Alckmin - histórico dirigente tucano - e já imprimindo as marcas de um governo burguês no primeiro ano de gestão, com o projeto do Arcabouço Fiscal - um teto de gastos 2.0 - e a recusa a revogar o “Novo” Ensino Médio, implementando apenas uma “suspensão” não acatada por alguns estados (como no Rio Grande do Norte, de Fátima Bezerra-PT) e que até agora não trouxe resultados práticos para se pensar um novo modelo para o ensino básico que ouça verdadeiramente alunos e professores.


O retorno de Lula à presidência, aliás, é um elemento central para se analisar este Conune. É o governo federal o responsável por gerir o orçamento do ensino público e outras medidas que afetam diretamente nossas vidas. Desde o início, a Revolução Socialista apontou a necessidade de ter uma UNE com independência dos governos e reitorias para seguir lutando pelo que é nosso: comemorando a conquista de medidas progressivas, como o reajuste de bolsas e a recomposição orçamentária, e exigindo o governo para avançar à esquerda em outras ações, sem esquecer a caracterização de que este é um governo burguês e, portanto, não é nosso aliado.


Também elencamos como prioridade a luta contra o Arcabouço Fiscal e o “Novo” Ensino Médio, e por isso buscamos construir durante a cena do Congresso a máxima unidade da Oposição de Esquerda que se configurasse como um polo forte e dinâmico contra a política de conciliação de classes da majoritária. Embora se digam contra estas pautas, é fato que PT e PCdoB votaram na Câmara a favor dos projetos que atacam a educação. A contradição política é indissociável desses setores, confortável com suas mentiras levadas com força à base, mas incontestáveis com a materialidade concreta. Eles mentem; o placar da Câmara, não.


Sectarismo e oportunismo


O sectarismo e oportunismo também mostraram suas caras. Apesar dos diálogos feitos com PSTU, Faísca/MRT e outros, estas juventudes preferiram apostar na autoconstrução e formar chapas únicas, sem qualquer peso no cenário final do congresso. Também lamentamos a postura da Faísca que, afirmando corretamente defender a independência dos governos na UNE, rejeitou frontalmente qualquer tipo de aliança com as juventudes da Esquerda do PSOL.


Outro elemento enfraquecedor foi a decisão da Juventude sem Medo (Afronte, RUA, Fogo no Pavio, Manifesta, Brigadas Populares e Travessia, juventudes de correntes internas do PSOL que conformam a direção majoritária do partido) de assinar a resolução de conjuntura junto com a majoritária. Este texto, novamente, apostava no cinismo, com apenas duas críticas rápidas e pouco aprofundadas sobre o caráter do Arcabouço Fiscal, apontando “a retirada do FUNDEB e dos investimentos em Ciência e Tecnologia do Arcabouço Fiscal” como uma vitória, mas sem criticar o resto do texto que ainda é, sim, de ajuste fiscal!


A posição não representou uma novidade, já que no Conselho Nacional de Entidades Gerais da UNE (Coneg) feito em abril, Fogo no Pavio e Manifesta já haviam aderido a um manifesto “Unidade para Reconstruir o Brasil da Esperança” com UJS, Levante e juventudes do PT, PSB e PDT, numa redação que não citava, em nenhum momento, o Arcabouço Fiscal de Lula-Alckmin-Haddad.


Já ao final de tudo, no domingo (16), sete chapas ao todo se constituíram para a eleição da nova diretoria:


Chapa 1 (Faísca/MRT): 28

Chapa 2 (Rebeldia): 3

Chapa 3 (JCA): 13

Chapa 4 (MPJ, JAE e FdO): 167

Chapa 5 (Juventude Sem Medo e Quilombo): 371

Chapa 6 (Correnteza, UJC, Juntos, Pajeú, Alicerce, Ecoar, Vamos à Luta e Juventude da Revolução Socialista): 1005

Chapa 7 (UJS, Levante, Kizomba, Enfrente, Paratodos, JSB, JSPDT, JPL): 4593


Nesta etapa, a Juventude sem Medo fez mais um recuo à independência de classe e não se somou à OE, optando por se aliar ao Coletivo Quilombo do PT. Esta opção teve um resultado desastroso: a Oposição de Esquerda perdeu a única vaga que tinha na Mesa Diretora - a secretaria geral, com o Correnteza - a deixando para o Paratodos, juventude da CNB que é reconhecidamente a ala direita do PT.


Para os companheiros da JSM, a decisão foi justificada na unidade “contra o neofascismo que ainda persiste em nosso país”. Na prática, fazem um divisionismo e escolhem compor com as forças governistas da UNE e fazer desta entidade uma correia de transmissão do governo.


Alguns dos seus dirigentes ainda instrumentalizam essa decisão na crítica vazia ao “stalinismo”, para justificar o fato de que, na Oposição, quem perdeu a Mesa Diretora foi o Correnteza. Preferem, assim, o fortalecimento da majoritária ao crescimento da Oposição, ainda que a maioria da direção não teça uma crítica contundente ao ajuste fiscal do Executivo e não aponte absolutamente nenhuma crítica ao fortalecimento dos conglomerados bilionários da educação privada por meio de programas como ProUni e Fies, sem exigir o direcionamento destes recursos para a educação pública e sem reivindicar o fim do vestibular para que caminhemos rumo ao fim desse filtro excludente!


As mediações da Oposição de Esquerda


Ao defender a ampla unidade dos setores independentes da UNE em uma mesma chapa, sabíamos que mediações teriam que ser feitas e costuradas em bons acordos. Foram estas discussões que permitiram que reuníssemos oito juventudes diferentes em uma mesma chapa, de três partidos distintos - PSOL, PCR e PCB. As bases para o acordo passaram pelo que já citamos acima: a independência da UNE frente aos governos, contra o Arcabouço Fiscal e o “Novo” Ensino Médio.


Para chegar ao máximo consenso - e reconhecendo também o peso minoritário da Juventude da Revolução Socialista na chapa - recuamos em algumas críticas que achávamos necessárias. Os companheiros do Correnteza, por exemplo, têm uma leitura de disputar o governo à esquerda, e se recusam a ser oposição no seu partido legal, a Unidade Popular.


Acreditamos que essa visão faz parte da sua concepção etapista de construir partido e que, mesmo com uma base operária e popular, o projeto do PT é burguês, sem possibilidade de disputa. Não à toa, até mesmo as pastas de primeiro escalão ligadas a movimentos identitários correm agora risco de perder os titulares nas negociações com o Centrão, mas a política econômica é inteiramente gerida pelo neoliberalismo e seguirá guiada pelo ajuste fiscal.


Ao final de tudo, a Oposição conquistou três diretorias na Executiva da entidade. Não deixa de ser um respiro frente ao cenário de desmontes promovidos pela JSM, mas aquém do que poderíamos ter sem a conciliação dos companheiros. A batalha por uma UNE independente, combativa e antiburocrática segue. Esperamos, no 60º Conune em 2025, virmos mais fortalecidos e preparados com a juventude trotskista da Revolução Socialista. Mais do que brigar por aparatos, queremos levar a política aos estudantes; é isto que falta à UNE, é isto que falta ao movimento estudantil.

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