Solidariedade aos trabalhadores dos Restaurantes Universitários e mobilização estudantil para enfrentar o sucateamento e as terceirizações.
- contatorevolucaoso
- 7 de mai.
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Por Revolução Socialista Paraná
SOCORRO COLABORADORES RU'S
Estamos escrevendo este e-mail para expressar nossa crescente preocupação como trabalhadores do Restaurante Universitário da Universidade Federal do Paraná. Nossas unidades, localizadas nas sedes Agrárias, Botânico, Central e Politécnico, têm enfrentado sérias dificuldades devido à gestão da empresa Cozinha Gourmet Ltda, responsável pela prestação de serviços de refeições coletivas.
Nos últimos três meses de trabalho, temos lidado continuamente com atrasos nos pagamentos, o que gera incertezas e angústia entre nós — funcionários dedicados e comprometidos com nosso trabalho diário. Em relação ao pagamento do FGTS, informamos que ainda não conseguimos abrir uma conta para recebê-lo, o que é uma situação inadmissível, considerando que já completamos três meses de atividades laborais.
Além disso, temos enfrentado problemas constantes com os vales-transporte, que atualmente estão sendo depositados via PIX semanalmente, porém com frequentes atrasos. O vale-alimentação, assim como o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), também apresenta falhas, já que muitos de nós não recebemos os uniformes completos necessários para a execução adequada de nossas funções.
Importante destacar que muitos de nós optamos por não nos identificar neste e-mail, por receio de sofrer represálias ou colocar em risco nossos empregos. Esse ambiente de insegurança reforça ainda mais a necessidade urgente de medidas que garantam o respeito aos nossos direitos e condições dignas de trabalho.
Nós, como equipe, estamos profundamente comprometidos em realizar nosso trabalho com excelência, mas a falta de garantias e o respeito pelos nossos direitos estão nos levando a questionar a viabilidade de nosso futuro nesta instituição. É imperativo que tenhamos a certeza de que nossos direitos trabalhistas serão respeitados e que os pagamentos referentes a nossos salários e benefícios sejam realizados pontualmente, conforme a legislação.
A transparência nas relações de trabalho e o cumprimento das obrigações financeiras são fundamentais para mantermos a saúde e a motivação necessárias para desempenhar nossas funções com dedicação e qualidade.
At.: Colaboradores RU's
O e-mail acima foi elaborado por trabalhadores do RU da UFPR em Curitiba e enviado para setores da Reitoria da UFPR, no último sábado, dia 03 de maio, com o auxílio de estudantes, e ainda sem respostas. Garantindo o anonimato e a pedido dos trabalhadores, a Revolução Socialista Paraná, que integra atualmente o DCE (Diretório Central dos Estudantes) na UFPR, está amplificando as vozes e reivindicações destes que arduamente garantem o funcionamento dos Restaurantes Universitários, central para a vida e permanência dos estudantes, apesar das condições que a empresa contratada oferece e dos efeitos da terceirização/precarização e da agenda de austeridade fiscal e privatizações nas Universidades Públicas. Desejamos que toda a comunidade universitária esteja ciente, debatendo os fatos a seguir e acumulando forças para dividir as trincheiras nesta unidade entre trabalhadores e estudantes.
Entre as denúncias e relatos gerais sobre a gestão da empresa COZINHA GOURMET LTDA e as condições de trabalho oferecidas estão: estrutura e comunicação escassa entre empresa/RH e trabalhadores, medo constante do desemprego e represália, novas contratações com salários diferentes das contratações iniciais na mesma função, perda de trabalhadores com experiência relevante após a mudança de empresa, trabalhadores pedindo a conta ou demitidos por arbitrariedades, por não admitirem as condições de trabalho, assédios após demonstrarem insatisfação com pressão, sobrecarga, acúmulo/desvio de função, falta de uniforme, EPIs, atraso nos pagamentos de salário e benefícios, horas extras ao invés de contratação de novos funcionários, extensas horas de trabalho, equipes reduzidas, irregularidades no pagamento do FGTS e INSS, atraso no recebimento de benefícios como VT e VA, colocação de totens para autoatendimento que atrapalharam os trabalhadores do pagamento e a falta de acesso a estrutura da empresa para resolução dos problemas. Os trabalhadores já tentaram contato com sindicato e com as vias institucionais da UFPR, porém enfrentam obstáculos ou falta de comprometimento com suas reivindicações, além da tentativa do RH e dos donos da empresa de preservar sua imagem e evitar o contato com outras instâncias.
O histórico da COZINHA GOURMET LTDA não é bom. Uma simples pesquisa evidencia que as práticas irregulares e problemas criminais rondam a vida da empresa, sendo que na UFPR refletem na má qualidade do serviço prestado, falta de estrutura e suporte que dá a operação e às garantias aos direitos dos trabalhadores. Seguem referências de matérias recentes relacionadas a empresa: “O Ministério da Educação e Cultura (MEC) firmou um contrato de R$ 40,3 milhões com uma empresa cujo dono foi preso pela Polícia Federal (PF) em operação que investigou a entrada de drogas, arma de fogo e aparelhos celulares em um presídio de Macapá (AP). Proprietário da Cozinha Gourmet, o empresário amapaense Cleyton dos Santos Amanajás, de 32 anos, chegou a ser detido em 2022. Como as suspeitas contra ele eram mais “leves” e se limitavam a um suposto esquema de superfaturamento, ele foi liberado pela Justiça 8 dias depois.”
Sobre o contrato e a licitação, é necessária maior investigação e transparência dos custos e do funcionamento da empresa, que já estão sendo cobrados pelo DCE/UFPR. Mesmo assim, a terceirização do Restaurante Universitário na UFPR, que começou em 2018, revela atualmente as contradições da agenda neoliberal nas Universidades Públicas. O valor que a UFPR estimou destinar para o contrato do RU em 2025/26, segundo o edital de licitação, foi de R$ 85.983.200,00 milhões, enquanto o valor total do contrato com a COZINHA GOURMET LTDA é de R$ 40.390.500,00, representando um "desconto/economia da Reitoria" em mais de 50% dos recursos destinados à permanência estudantil. Esta lógica intrínseca de austeridade da terceirização e das licitações no serviço e administração pública nada mais é do que a imposição de redução dos recursos públicos, disfarçada pela narrativa do controle dos gastos, que seriam investidos na melhoria das condições de trabalho nas universidades públicas e a garantia do acesso e permanência estudantil. Além disso, o edital e o contrato com a empresa prevêem condições, fiscalizações e vistorias das quais pouco sabemos se são atendidas e suspeitamos que não, como é o caso das marmitas e do tamanho das equipes por unidade. Também não conhecemos o real faturamento mensal da COZINHA GOURMET e sua estrutura de custos para que a comunidade universitária tenha certeza de que os recursos já escassos estejam sendo empregados efetivamente. Uma comparação entre as informações do painel de refeições do site do RU - https://pra.ufpr.br/ru/curitiba-2025/ - e as previsões mensais do contrato nos ajudam a entender se o que é pago para a empresa é de fato o que ela fornece, sem contar a baixa qualidade, precarização e sobrecarga nos espaços de trabalho.
* Edital de licitação do RU 2025/26: https://intranet.ufpr.br/sigea/public/anexo!downloadAnexoPublico.action?anexo.id=66438&operationMode=STORE
* Contrato com a COZINHA GOURMET LTDA: https://intranet.ufpr.br/sigea/public/anexo!downloadAnexoPublico.action?anexo.id=66439&operationMode=STORE
Diante disso, nós militantes da Revolução Socialista Paraná e integrantes do DCE/UFPR acreditamos que para enfrentar a terceirização e a privatização dos espaços das Universidades Públicas é necessário unidade de luta entre as entidades das categorias, o movimento estudantil, coletivos dispostos e os DCEs de Curitiba e no Paraná (UFPR, UTFPR e demais universidades estaduais), sendo o pontapé das mobilizações na UFPR as recentes Assembleia de Estudantes e CEB, com o abaixo assinado elaborado pelo DCE, seguido da organização de espaços em que possamos debater a situação dos RUs em unidade com quem estiver disposto e somar forças nessa luta. O DCE da UFPR realizou contato com a Reitoria e a empresa terceirizada reivindicando a diminuição das filas, o fim dos totens e a contratação de funcionários. Tivemos resposta sobre o fim dos totens, porém as filas continuam e constatamos uma insuficiente contratação de novos funcionários para as unidades em Curitiba.
Na UTFPR Curitiba a situação não é diferente. Trabalhadores esgotados, assediados, com medo de se mobilizar, enquanto as filas aumentam, os equipamentos carecem de manutenção e a qualidade cai. Com a recente troca de direção do Câmpus, há intenção de mudar a empresa licitada, entretanto o movimento estudantil já prevê que essa seja uma manobra para aumentar o sucateamento do RU e preocupados com o futuro dos trabalhadores já empregados já estão se mobilizando e cobrando medidas da atual gestão. Ressaltamos que o perfil de contratações nos RUs segue o mesmo de várias outras ocupações precarizadas: trabalhadores e trabalhadoras imigrantes, jovens, pessoas que moram longe de suas ocupações, mulheres, mães, pais, idosos, pessoas racializadas e a sorte de quem consegue encontrar dentro das Universidades Públicas um espaço de trabalho que mesmo sob uma empresa terceirizada, deveria ser local da garantia de direitos trabalhistas.
Compartilhamos nossa análise de que há atualmente uma centralidade no ataque aos direitos de acesso e permanência como os RUs e as bolsas PROBEM para que as Reitorias garantam a execução da agenda neoliberal e privatizante das Universidades Públicas, reflexos da contrarreforma trabalhista, dos cortes na Educação, do sequestro do orçamento público pela Dívida Pública e do Arcabouço Fiscal do governo Lula-Alckmin. Nacionalmente, o movimento estudantil está se mobilizando para defender seus direitos e enfrentar os ataques à educação do governo atual e dos representantes estaduais da direita e extrema-direita. Os exemplos na UFRJ, USP e UEM de ocupações e mobilizações em conjunto com trabalhadores nos mostram que o caminho é a unidade operária, trabalhadora e estudantil com solidariedade e mobilização, que não devemos ter nenhuma confiança nas Reitorias e nas vias institucionais e que precisamos construir uma alternativa política coletiva, com independência de classe, que responda às reivindicações dos estudantes e enfrente a burocracia aliada ao governo atual que encontra-se hoje na UNE/UBES, representados pelas juventudes do PT e PCdoB. Desde antes da Greve das Federais de 2024 e nos congressos estudantis de 2025, tais juventudes vem trabalhando para desmobilizar o movimento estudantil.
Nossa maior solidariedade com os trabalhadores dos RUs, exigimos a regularização das condições salariais e trabalhistas, já!
Denunciamos a empresa COZINHA GOURMET e exigimos reunião urgente entre a Reitoria, as entidades estudantis e os trabalhadores dos RUs com a empresa.
Repudiamos os atrasos de pagamento de salário e benefícios. Paralisação e mobilização para enfrentar a precarização!
Os RUs deveriam ser administrados pelas Universidades Públicas, com trabalhadores universitários. Somos contra toda terceirização, PPPs, concessões ou processos de privatização.
Lutamos pela incorporação desses trabalhadores à categoria de funcionários universitários federais e os RUs à gestão das IFEs.
Todo apoio aos trabalhadores que alimentam os estudantes todos os dias!!!!