Por Suzete Chaffin
Enegrecemos o calendário no mês de julho! Não só para celebrar, mas também para reivindicar e amplificar a luta por direitos para as mulheres negras – 25/07, Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha; no Brasil é o Dia Nacional de Tereza de Benguela; e 31/07- Dia da Mulher Africana. Para que ninguém nos pergunte o porquê dessas datas, explicitaremos em poucas palavras.
Seja no nosso país ou no continente africano, as consequências da exploração colonial são um rastro de injustiça e desigualdade social. Basta dizer que tanto aqui como na África a pobreza tem gênero e cor: é mulher preta! Mulheres negras estão na base da pirâmide social, recebem os menores salários, vivem nas piores condições de moradia, conhecem a fome e a dor de não ter como alimentar seus filhos. Desde meninas, são as principais vítimas da violência, do racismo, do machismo e do feminicídio; expressão máxima de toda forma de violência. Sofrem com a violência obstétrica, muitas morrem por aborto clandestino, pela falta de assistência à saúde ou por decidir interromper gravidez resultante de estupro cujo direito, mesmo previsto em Lei, lhes é negado.
Não faltam motivos ou fatos históricos para impulsionar as lutas iniciadas pelas ancestrais, as que enfrentaram a dura tarefa de abrir caminhos e que por essa proeza serão sempre lembradas com respeito. “Nossos passos vêm de longe” reiteram as pretas. Mulheres como Tereza de Benguela (1700 - 1770), que no século XVIII liderou, por vinte anos, o Quilombo Quariterê, na região do atual estado do Mato Grosso. Sua morte envolve controvérsias. Segundo alguns historiadores, ela foi capturada e decapitada pelos colonizadores portugueses. Tereza se tornou símbolo da liderança feminina negra e da resistência dos povos escravizados do Brasil.
Entre tantas pretas lutadoras, celebramos a existência de Lélia Gonzalez (01/02/1935 – 10 /07/1994), que no século passado lutou com palavras e atitudes. Há exatos 30 anos Lélia nos deixou. Professora, filósofa, antropóloga, escritora, foi uma das principais intelectuais do feminismo negro no Brasil. Seu reconhecimento e a disseminação de sua obra são imprescindíveis à desconstrução de (pré)conceitos estabelecidos pela branquitude sobre as mulheres negras. No século XXI, Marielle Franco (27/07/1979 – 14/03/2018) se tornou ícone internacional da luta em defesa do povo negro. Cria da Favela da Maré (RJ), socióloga, lésbica, eleita vereadora, a quinta mais votada para o mandato de 2017 a 2020, foi brutalmente assassinada por milicianos. Um crime que até hoje é investigado e que está desvendando um emaranhado de corrupção no poder de Estado, no Rio de Janeiro.
Toda as que vieram antes inspiram as lutas atuais de gênero, raça e classe contra o capitalismo, o racismo, o sexismo. Seus legados fortalecem a luta de estudantes, e trabalhadoras e trabalhadores negras e negros, que no mês passado (26/06) se rebelaram contra um projeto de orçamento para 2024-2025, com a proposta de criação de mais impostos e aumento dos vigentes. Num dos protestos ocuparam o centro financeiro de Nairóbi (capital) e sofreram violenta repressão, que deixou 23 mortos e dezenas de feridos e, obrigou o governo a recuar, retirar o projeto. Essa luta, tão atual, traduz a resistência e a força contra o capitalismo, na África.
O calendário negro nos remete à voz doce, porém potente, da escritora e poetisa Conceição Evaristo: “Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”. Mulheres negras não se curvam na luta contra toda forma de opressão. Por direito ao seu lugar no mercado de trabalho e nos espaços de poder. Avançam no combate ao capitalismo, na luta por uma sociedade mais justa e igualitária, por reparação histórica, pelo direito à vida.
Axé, trabalhadoras negras!
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