top of page

“Natal merece mais” com PRD e MDB?

Atualizado: 22 de jul.



Por Comitê Regional da Revolução Socialista-RN

Desde o ano passado, a pré-candidatura à Prefeitura de Natal da deputada federal Natália Bonavides (PT) tem animado um setor da esquerda reformista e conseguido fazer tensionar, dentro do debate público, com as demais candidaturas de direita. Natália é jovem (36 anos), militante de um setor menos degenerado do PT e feminista. Por isso, recebeu apoio de outros partidos de centro-esquerda e até de um da esquerda radical, a Unidade Popular — que, inclusive, compõe o gabinete de Natália na Câmara. Por outro lado, a pré-candidatura não se furtou ao programa da frente ampla do PT, firmando alianças com os golpistas do MDB e com a sigla de extrema-direita PRD (resultado da fusão entre PTB e Patriota). Essas contradições levaram também a um debate interno dentro do PSOL: o partido que sempre lançou candidatura própria à Prefeitura deveria abrir mão de apresentar seu programa em prol de uma frente ampla contra o grupo do atual prefeito Álvaro Dias (Republicanos) — tendo, para isso, que se aliar até com a extrema-direita — ou deveria manter vivo um programa ecossocialista, feminista, LGBT, negro e apoiado na luta dos servidores públicos e do povo pobre para Natal, denunciando a extrema-direita, o governo Álvaro Dias e a frente amplíssima? 

Opinamos, desde o início, que o PSOL deveria ter candidatura própria. A posição inicialmente não era a mesma para es companheires do Movimento Esquerda Socialista (MES), tendência interna que controla mais de 80% do PSOL na capital. O MES fez diversas reuniões com Natália e não descartava uma aliança com o PT sob a premissa, em suas posições, de barrar o bolsonarismo. Argumentamos que não era possível barrar o bolsonarismo se aliando ao bolsonarismo e, por isso mesmo, chegamos a lançar a pré-candidatura do companheiro Modesto Neto à Prefeitura. Em artigo de maio no site da Revolução Socialista, ele apontou nossos motivos com aquela postulação.

“Se o horizonte estratégico é enfrentar a direita sem se confundir com os partidos da ordem, apresentando uma nominata robusta ao Legislativo, apoiar Natália Bonavides e a Frente Ampla junto com setores da direita (MDB e PRD) será descredibilizar totalmente o PSOL, ferir de morte a imagem do partido e minar o potencial das candidaturas proporcionais. O PRD é a fusão do PTB e o Patriota, um partido bolsonarista que abriga figuras do esgoto do fascismo brasileiro e que tem uma bancada que votou na Câmara Federal pela soltura do deputado Chiquinho Brazão, o mandante do assassinato da nossa vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018”, argumentou.

E continuou:

“Optar por Natália é se incorporar a uma frente eleitoral com as oligarquias Alves e abdicar de apresentar o programa partidário numa aliança que não beneficia a tática do PSOL em absolutamente nada. É também romper com a tradição de sempre lançar candidaturas majoritárias à prefeitura e acrescente-se: todas estas candidaturas, mesmo com limitações e problemas, sempre ajudaram a ampliar o alcance de interlocução e intervenção social do partido.” 

Apontamos isso porque não era novidade, já em 2023, que Natália caminharia com a direita na sua coligação, já que sua frente ampla é uma espécie de reedição da frente amplíssima que reelegeu Fátima Bezerra como governadora pelo PT-RN em 2022, tendo Walter Alves (MDB) de vice. Ao MDB se incorporou também o PRD bolsonarista, que também está no governo estadual e comanda a superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes no Rio Grande do Norte (Dnit/RN).

O PSOL, mesmo assim, caminhava em seu entendimento com Natália. As reuniões da direção com a pré-candidata, inclusive, eram anunciadas em nome do PSOL, mas contavam somente com o MES. Desrespeitando a base e as instâncias do partido, nem a Revolução Socialista nem o Fortalecer — que também são parte da direção — eram convidados aos encontros. Um movimento inédito no início de junho, contudo, dividiu o MES localmente e instaurou uma crise na corrente.

De um lado, um setor representado principalmente pela juventude do MES (Juntos) lançou a pré-candidatura a prefeita de Camila Barbosa, dirigente do PSOL e da sua corrente, ex-vereadora e ex-diretora da UNE, se somando à Revolução Socialista nas críticas à frente amplíssima. Essa decisão foi tomada pelo diretório municipal em 10 de junho e contou com o voto favorável da RS, que retirou a pré-candidatura de Modesto Neto em prol da unidade do partido e, também, das nossas dificuldades internas — mesmo filiado ao PSOL Natal e tendo construído sua vida militante na capital, Modesto atualmente mora no interior.

De outro lado, um outro setor do MES — notadamente o ex-deputado estadual Sandro Pimentel e a educadora popular Tati Ribeiro (presidente do PSOL-RN e presidenta da Federação PSOL-Rede em Natal, respectivamente) — levaram a divisão interna à mídia, apostando e divulgando que apoiam a pré-candidatura de Natália Bonavides, do PT. Pimentel foi à imprensa para dizer, inclusive, que levaria a situação à direção nacional. Esse MES — de Sandro e Tati — nunca divulgou ou se fez presente nas ações de pré-campanha do PSOL; mas eram (e são) figurinhas recorrentes nas atividades do PT, à revelia da decisão tomada pela maioria da direção do PSOL. 

Uma das demonstrações mais contundentes desse eleitoralismo e da traição às decisões coletivas foi a presença de Tati Ribeiro, dirigente do MES, como convidada para o debate da pré-campanha do PT intitulado “Os desafios de uma cidade para todas as pessoas”, que foi realizado na última sexta (19) com uma maioria de convidadas do PSOL. Das quatro mulheres à mesa (além da própria Natália, claro), somente uma era do PT e três eram do PSOL: além de Tati (MES), Thabatta Pimenta (ligada à Primavera Socialista) e a deputada federal por São Paulo Erika Hilton (ligada à Revolução Solidária).

Em seu programa fundacional, o PSOL rechaçava a conciliação de classes e apontava que sua base programática era o resgate da independência política dos trabalhadores e excluídos. Sobre o primeiro Governo Lula, dizia que houve uma guinada doutrinária a serviço do capital. 

“Depois de quatro disputas, Lula entregou-se aos antigos adversários, e voltou as costas às suas combativas bases sociais históricas. Transformou-se num agente na defesa dos interesses do grande capital financeiro. Na esteira dessa guinada ideológica do governo, o Partido dos Trabalhadores foi transformado em correia de transmissão das decisões da Esplanada dos Ministérios”, aponta trecho do programa.

Na contramão do programa fundacional do partido, porém, estes setores — Primavera Socialista e Revolução Solidária nacionalmente, e MES localmente — insistem no caminho mais fácil, vendendo ilusões à classe trabalhadora e fazendo crer que o nosso futuro será decidido por meio das instituições burguesas e nas alianças condenadas outrora.

Qual Natal que queremos?

O mote adotado por Natália Bonavides em sua pré-campanha tem sido o da “Natal merece mais”, mas qual projeto é esse que não rompe com nossos inimigos de classe e se propõe a fazer as mesmas alianças trágicas que levaram ao golpe jurídico-parlamentar contra Dilma em 2016, até com “aliados” que foram parte dos apoiadores das contrarreformas de Temer e Bolsonaro?!A pré-candidatura petista renova o perfil apresentado pelo PT nas últimas disputas majoritárias na capital potiguar, mas não é capaz de abandonar o projeto da conciliação de classes. Integrante da Articulação de Esquerda (AE), corrente à esquerda da maioria da direção do PT, a AE e Natália costumam ter posições mais críticas à lógica reformista do PT, mas não rompem com este partido. Pelo contrário, são costumeiramente derrotados nas disputas internas e publicamente assumem as posições vencedores, mesmo que para isso precisem trair os trabalhadores. Exemplo foi quando, em maio do ano passado, Natália e outros deputados petistas votaram a favor do Arcabouço Fiscal, o teto de gastos 2.0, e posteriormente lançaram uma nota justificando o voto favorável, em suas palavras, “por lealdade ao presidente Lula e para manter a unidade da Bancada”. Mais vale, para ela e para os colegas do PT, manter a austeridade fiscal e obedecer aos interesses do mercado financeiro ao invés de lutar por mais investimentos públicos? É a lógica contaminada e traidora do possibilismo, que não vai das palavras aos atos. Usa sua retórica em prol de cooptar uma militância que efervesce nos movimentos sociais, carente de um programa verdadeiramente radical, anticapitalista, socialista e anti-imperialista, e transfere toda essa força para reafirmar as mesmas posições dos burocratas pró-mercado, verdadeiros freios à luta de classes. 

Se socialista fosse, Natália romperia com o PT e chamaria o povo a se organizar contra o Arcabouço Fiscal ou qualquer medida de ataque dos capitalistas, mas prefere abdicar de qualquer perspectiva estratégica em prol dos votos e da suposta “governabilidade” do governo Lula, que conta em seus ministérios com MDB, PSB, PSD e até União Brasil! 

Para onde caminha o MES?

O MES, que no ano passado e junto ao campo da esquerda do PSOL saiu derrotado do congresso nacional do partido, segue agora com sua tática eleitoral confusa, que não é novidade para quem acompanha o PSOL no Rio Grande do Norte. 

No estado potiguar, sua prática mais recorrente é a filiação de figuras públicas controversas em cima do prazo eleitoral para que sejam candidatos aos mais altos cargos como governador, prefeito e senador, sem um debate amplo na base do partido, visando somente possíveis ganhos eleitorais — que nunca se concretizaram com essas apostas. 

O exemplo mais contundente foi a da candidatura ao governo do RN em 2018 do empresário milionário Carlos Alberto Freire Medeiros, que se filiou em cima da hora sem que tivesse nenhuma trajetória de militância prévia nas ruas e nos movimentos sociais — embora tivesse vindo do PT. Logo em 2019 passou para o PV, onde foi candidato a prefeito de Natal em 2020; em 2022 assumiu a presidência do PDT natalense. Nunca houve um balanço público do MES ou do PSOL sobre o desastre dessa candidatura, assim como o partido se calou sobre as fracas candidaturas à Prefeitura em 2020 e ao Senado em 2022. Alguns desses nomes que assumiram tais tarefas como candidatos pararam de militar no partido logo em seguida.

E agora em 2024 o que resta ao Movimento Esquerda Socialista? Deseja ser o braço esquerdo de um projeto reformista e conciliador de classe, se aliando até à extrema-direita?

Ainda que possam argumentar que estejam divididos em duas frações no Rio Grande do Norte, não parece haver por parte de sua direção nacional nenhuma ação para centralizar a política no estado e caminhar com um mesmo projeto — tanto que Sandro Pimentel e Tati Ribeiro seguem com Natália publicamente, ainda que reconhecidos como dirigentes e figuras públicas do MES. 

Em setembro de 2023, Sandro Pimentel foi conduzido à presidência da executiva estadual da legenda com 87% dos votos. Se o MES é a favor de candidatura própria, vai centralizar seus dois dirigentes em Natal que apoiam Natália? Vai retirar Sandro da presidência do PSOL-RN?

Se o MES é contra a candidatura própria e defende o apoio ao PT, vai então centralizar a fração da juventude, retirar a pré-candidatura de Camila Barbosa e assumir que é progressivo se aliar ao MDB e PRD para “barrar o bolsonarismo”? Ou então vai assumir oficialmente que abandonou o centralismo democrático e que não defende mais o regime de partido leninista? São perguntas que estão em aberto.

0 comentário

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page