Por: Nancy Galvão – Professora, Secretaria Executiva Nacional da CSP Conlutas
Pesquisas mostram um aumento crescente da violência no interior das escolas em vários países. Ações de pessoas cujas características majoritárias são homens, brancos, supremacistas, também fanáticos religiosos e/ou misóginos, como o caso do envenenamento de estudantes após protestos contra o assassinato de Mahsa Amini pela polícia moral da autocracia iraniana que mata mulheres pelo não uso do hijab. No Brasil, de 2022 a 2023, ataques violentos nas escolas já superam os registrados em duas décadas!
Não são casos aleatórios, nem devem ser individualizados, ainda que a ação aparente seja, em geral, protagonizada por uma só pessoa. A polarização crescente entre projetos sociais, alimentada pela crise civilizatória, resultado do fracasso do sistema capitalista, e a democracia burguesa como dique de contenção da insatisfação das massas empobrecidas, famintas e desesperadas vai perdendo sua utilidade. Resta impor a força das armas e dos regimes ditatoriais para liquidar direitos humanos básicos, naturalizar o trabalho escravo, o tráfico de pessoas, um novo contrato social sem direitos à maioria da população trabalhadora que sequer poderá vislumbrar a exploração da sua força de trabalho. Somente no substrato social da ignorância, do medo e do terror é possível consolidar uma sociedade violenta, avessa às ciências, à liberdade, à pluralidade estética das artes e da diversidade humana, monstruosamente desigual e predadora.
É para essa sociedade que foi pensado o projeto do Novo Ensino Médio (NEM) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC): o esvaziamento do conhecimento humano e de sua capacidade coletiva pelas escolas militarizadas e pelas mentiras do empreendedorismo - que o esforço individual resultará em sucesso garantido.
A escola produz e reproduz conhecimentos das sociedades humanas. Não à toa os ataques e as políticas de desvalorização dos trabalhadores da educação, as Fake News difundidas pela ideologia “escola sem partido”, a criação do espantalho da “ideologia de gênero”, a acusação de “doutrinadores” dada aos professores, promovidos por quem lucra com a educação, pela extrema direita supremacista, pelo fundamentalismo religioso e tudo que expressa aversão e retrocesso à humanidade.
Nós de UNIDOS PRA LUTAR na Educação apresentamos propostas políticas necessárias contra o desmonte e a violência nas Escolas Públicas:
1-Revogação imediata do NEM/BNCC e abertura de debate público, sem interferência de empresas privadas, sobre o projeto de Ensino e Escola Pública.
2-Redução para 15-20 estudantes por classe para o Ensino Fundamental II e Médio e até 10 alunos para o Ensino Fundamental I.
3-Carga Horária de Planejamento domiciliar de 50% da hora total de trabalho.
4-Abertura de concurso público em todas as áreas da educação para repor o quadro de funcionários e ampliar as equipes de multiprofissionais com pedagogos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas e afins
5-Bolsas de estudo de 1 salário mínimo para todos estudantes em situação de vulnerabilidade social.
6-Reformas estruturais e construção de novas escolas e creches pelas frentes de trabalho público, com salário digno, direitos garantidos e sem terceirização privada.
7-Fim de todas as escolas militarizadas.
8-Revogação de todas as reformas que roubaram os direitos dos trabalhadores e da população usuária do serviço público.
9-Valorização dos profissionais da educação, com aplicação do Piso Nacional para todos e plano de cargos e salários, democraticamente construído nas bases das categorias.
10-Eleições abertas, democráticas e decididas pela comunidade escolar para a Gestão Escolar, com mandato revogável. Decisão democrática da comunidade escolar sobre a destinação coletiva das verbas escolares.
11-Monitoramento das plataformas sociais que propagam conteúdos supremacistas, de ódio e Fake News com a devida responsabilização social e criminal pela gravidade, com indenização às vítimas.
12-Desmilitarização das forças de segurança públicas, formação humanizada e socialmente referenciada. Com direito de organização sindical, plano de cargos e salários e melhores condições de trabalho.
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