Por Rafael Pereira, Revolução Socialista-PSOL.
Feriado na segunda feira, um dia a menos na jornada de trabalho.
Em Curitiba, já se vê a mudança do nome Dia do Trabalho para Dia das Trabalhadoras e Trabalhadores; do Dia da Abolição da Escravatura para Dia Nacional de Combate Contra o Racismo. Atos e protestos por vida, paz, pão, terra e céu acontecendo fora do centro da cidade, onde a maioria da classe está, afinal o modelo é esse, joga pra fora quem não merece uma calçada de granito. Mas ainda existe a luz de uma nova vista sob uma lente que há muito está suja e encardida.
Paira sobre as pessoas um horizonte de reorganização popular, de lideranças políticas, convivendo no mesmo espaço, sem cercadinho VIP ou carros de som ocupados por engravatados que nada sabem da dura realidade do dia a dia.
São poucos locais que essa troca pode acontecer, porque hoje, ironicamente, à classe trabalhadora que tudo produz pouco ou nada pertence, além de suas coisinhas. É difícil dar conta de equilibrar sobrevivência, disfrutar os prazeres da vida, descansar e ainda atuar politicamente. Para isso seria preciso mais umas quatro horas no dia ou menos horas no trabalho, quem sabe? Mas isso seria impossível, o sistema vai quebrar!
A exploração do trabalho e do tempo é o X dessa equação que garante que o bate-papo do jantarzinho na ilha particular seja sobre temas interessantes, como o lobby para avanço da exploração de petróleo, alta das moedas Y ou Z. Malditos ambientalistas que insistem em perturbar a nossa paz, malditos partidos de esquerda que ficam martelando e tentando organizar os pobres, malditos socialistas radicais. Não entendem que precisa ser assim, senão o sistema vai quebrar?
Já sei! Coloquem na TV aberta um desses comerciais de mau gosto, com essa gente estranha que tá na moda agora. Mas cuidado, não deixem o pessoal da lacração lançar nada sem aprovação daquele nosso diretor de arte. Aquele sim é o cara! Mantém a eficiência desses preguiçosos e ainda garante que a empresa não tenha prejuízo.
Letramento racial? Luta antimanicomial? Descriminalização das drogas? Quanta bobagem!
É triste perceber a grande quantidade de pessoas que têm que resistir contra o seu esmagamento, tentando descansar antes de pegar o ônibus de novo, literalmente matando um leão por dia.
Não existe corpo que aguente fazer isso sozinho. Quando não é o corpo que padece, é a mente ou os sonhos. Sonhos esmagados por um sistema que só para em pé porque tem gente trabalhando (muito) e pagando seus impostos (muitos) para manter as engrenagens girando.
Quando um governo popular consegue finalmente assumir o poder, é historicamente engolido na areia movediça, porque quem dá as cartas não quer saber de perder um milímetro dos seus tantos terrenos.
Fala-se de conquistar direitos mas quem os representantes eleitos apertam a mão e fazem acordos, são os mesmos que oprimem e matam os filhos da terra.
Mas calma, não podemos atacar o governo, deixem o homem trabalhar. Você é contra a democracia?
Essa tal democracia nunca existiu por aqui.
Essa lógica de egoísmo e competição a todo custo não vem de hoje, mas sabemos, está pior a cada dia que acaba e uma criança vai dormir inocente, sem saber que no dia seguinte sua casa será destruída porque uma multinacional quer sua propriedade de volta, porque afinal, foi ela quem pagou.
A luta de classes não dorme, nem depende de governos. Basta um vacilo e tudo volta a ser como era antes ou pior.
Defendendo a alegria e organizando a raiva, revolucionamos as estruturas que nos aprisionam sem soltar a mão de ninguém.
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