Por: Bruno Meirinho Coordenação Nacional Revolução Socialista e
Yasmim Lima - Militante da Revolução Socialista
CAMPANHA FICA TIRADENTES II
Em Curitiba, a comunidade Tiradentes II, que reúne dezenas de famílias, está ameaçada de despejo. Quem pede o despejo é a empresa Solvi Essencis Ambiental, que quer ampliar o seu lixão irregularmente contratado pela Prefeitura de Curitiba. Um depósito de residuos cheio de irregularidades e em frente à estação de água da cidade (SANEPAR).
Nas últimas semanas, movimentações no processo judicial apontam que o despejo é iminente, e com força policial repressiva. Os policiais tem rondado a comunidade e filmado, para ir incitando o medo nos moradores. Mas o efeito foi o contrário, isso gerou mais união entre os moradores e contra essa investida, o Movimento Popular por Moradia, que coordena a comunidade iniciou a campanha “Fica Tiradentes II”.
Em apoio à campanha, a Revolução Socialista/LIS, tendência do Psol, que integra a articulação Nacional Despejo Zero, propuseram a organização de uma brigada e um acampamento de solidariedade à comunidade.
25 DE MARÇO – INÍCIO DA BRIGADA E ACAMPAMENTO
No dia 25 de março, a Revolução Socialista esteve presente na ocupação do Tiradentes II, apoiando a instauração do acampamento de resistência, chamado Mahatma Gandhi, com o objetivo de uma resistência não violenta contra a ação de despejo.
O lixo é caro, e a conta vai para o povo e a natureza
A empresa Essencis pediu o despejo da ocupação do seu terreno, com o objetivo de expandir a área do lixão. Mas, a mesma tem uma série de denúncias e processos que evidenciam as irregularidades no tratamento do lixo. Desde a menção da empresa nos depoimentos da Lava Jato até as licitações para a contratação com a prefeitura, passando por licenças ambientais irregulares, pairam sobre a Essencis todo tipo de suspeitas e provas de ilícitos.
Em 2014, o Ministério Público entrou com uma ação contra a empresa, no qual denunciou a irregularidade da tentativa de ampliar o terreno do lixão, pois é uma área que não suporta mais a ampliação do lixo, por estar em pleno espaço urbano. Os impactos sociais e ambientais recomendam o fechamento imediato dessa empresa.
Justamente na área onde a empresa pretendia implantar sua inaceitável ampliação foi onde surgiu a comunidade Tiradentes, como forma de resistência ao aterro, defesa do direito à moradia e para proteção dos interesses sociais e ambientais sobre a área.
A Essencis gera degradação e poluição ambiental, e ocupa local inadequado para a sua atividade. Os resíduos que deposita atualmente incluem lixo contaminante, mas ao seu redor existem mananciais e bairros inteiros. A comunidade grita: Essencis FORA!
Outro fator importante, é que ao visitarmos o local, percebemos que a distribuidora de água e tratamento da água SANEPAR, é localizada em frente a empresa Essencis, o que pode geograficamente gerar riscos de contaminação da água pelo lixão.
Então, esse caso do lixão cheio de irregularidades, é mais um caso que o dinheiro arrecadado de imposto dos curitibanos é mal utilizado pelo Prefeito, Rafael Greca, do PSD, ao contratarem empresas de fachada que não resolvem de fato o problema da produção de lixo.
Tiradentes Revoluciona
A ocupação Tiradentes revoluciona, pois é um exemplo de comunidade autogestionária que vem crescendo em paralelo ao descaso do governo, que não responde as demandas da população.
Na comunidade, pratica-se a autodefesa dos direitos fundamentais, como o direito à moradia digna. A comunidade, de maneira simples e criativa, dá algumas respostas concretas às problemáticas que vivemos hoje em sociedade: a falta de moradia para os trabalhadores nos grandes centros urbanos e o que fazer com o lixo produzido e como viver em harmônia com a natureza.
O movimento popular por moradia mantém uma ação conjunta na comunidade, apoiando pessoas em condições de extrema vulnerabilidade, e que vem de várias regiões do país, desde o Ceará, Bahia e outras regiões do país, inclusive imigrantes, como venezuelanos em busca de melhores oportunidades de trabalho em Curitiba, e acabam tendo dificuldade de encontrar uma moradia diante do preço de aluguéis altíssimos. É uma ocupação que acolhe as diferenças e une por um objetivo em comum, a vida digna.
No meio do lixo deixado no terreno pela empresa Essencis, a comunidade tem buscado recuperar a área degradada. Eles têm suas fossas ecológicas, realizam a reciclagem de resíduos, mantém compostagem, com os restos de alimentos, que abastece suas hortas orgânicas e fortalecem o senso de coletividade através de uma cozinha comunitária.
A cada dia a luta avança mais e mais em união conjunta para melhorar as condições da comunidade e dos seus moradores, transformando um terreno que estava sem função social, e condenado a ser coberto com montanhas de lixo, em um local digno para viver.
Com ruas implantadas, moradias estabelecidas e famílias acolhidas, a comunidade está promovendo a limpeza do córrego de água poluído pela empresa vizinha, fazendo plantações de mudas de araucárias e buscando parcerias com entidades para defender a área e ter sua própria energia, através de painéis solares, já que o serviço da concessionária de energia é muito limitado, impedindo que os moradores usem eletrodomésticos.
A comunidade é um projeto de modelo autogestionário a seguir
Aos poucos a comunidade vai se construindo e mostrando que o governo não responde às necessidades da classe trabalhadora, e mais do que nunca necessitamos de um governo a serviço do povo.
Os trabalhadores, de maneira espontânea e natural, criam suas formas de poder paralelas ao Estado, criando seus próprios sistemas de organização democrática, com suas regras de convivência, de maneira ecossocialista, com cooperação e união entre os que vivem na comunidade.
Além disso, há todo um movimento solidário por parte da sociedade civil, ONGS e organizações sociais que vão se articulando e contribuindo para que esse projeto prospere, por meio da doação de alimentos, roupas, implantando projetos que visam melhorar a qualidade de vida dos que vivem no local.
É muito importante acompanhar o crescimento da comunidade e a união deles por um objetivo em comum, mesmo sendo pessoas totalmente diferentes. Que essa comunidade possa ser um exemplo a seguir, e que a vitória do Tiradentes II inspire seus moradores a apoiar o crescimento de outras comunidades e ocupações.
O problema do lixo, e as medidas ecossocialistas
Todo esse trabalho tem sido incrível para o crescimento, visibilidade da ocupação e denúncia do desgoverno e dos problemas por trás do lixo em Curitiba, mas precisamos seguir avançando até medidas socialista e que resolvam o problema de fato da moradia, do lixo e da questão ambiental.
Senão, continuaremos trabalhando e resolvendo problemas imediatos, enxugando o gelo, e não avançamos na luta para uma revolução, que derrube esse sistema.
Portanto, primeiramente, é necessário questionar o sistema e a super produção em massa de bens e o incentivo ao consumo que o capitalismo gera, que tem como consequência a crescente produção de lixo e destruição da natureza.
É necessário questionar o que consumimos, porque consumimos, e questionar o que as empresas produzem, e se a sua produção se desenvolve focando no desenvolvimento social e da natureza.
Também temos que entender o que de fato o governo está fazendo para resolver essa problemática da super produção de lixo. O maquinário do governo, da Justiça e da polícia, está a favor do povo e da natureza, ou tem sido um aliado aos lucros capitalistas?
Por fim, utilizar as tecnologias ancestrais, dos povos tradicionais e as tecnologias modernas ao nosso favor, para avançar na diminuição da produção de lixo e na reutilização do que é produzido, para o crescimento e desenvolvimento humano em harmonia com a natureza, pois não há planeta B!
Por isso defendemos uma política de cidade integrada, no qual o tratamento de lixo deve ser regionalizado nos bairros e nos prédios, com o máximo de aproveitamento dos resíduos sólidos e orgânicos.
O desenvolvimento de mais cooperativas de catadores, e sua formação para que possam reaproveitar o máximo possível dos resíduos. E esses centros de reciclagem devem ser financiado pelas empresas que o produz, responsabilizando-as pelo excesso de lixo que produzem no mundo.
Junto a isso, a criação de hortos comunitários. E um tratamento adequado para o lixo hospitalar e industrial, que também deve ser responsabilidades o destino desse lixo.
E tudo isso, deve ser feito com a participação popular, para que sejam desenvolvidos projetos de acordo com as necessidades de cada bairro.
Nossa política de moradia
Lutamos por medidas urgentes como Política Nacional de obras públicas para construção de moradias populares autossustentáveis, com mobilidade urbana contra o deficit habitacional e expropriação de imóveis e terrenos sem utilização para garantia do direito à moradia, no caminho de uma verdadeira e urgente Reforma Urbana contra a especulação e a concentração imobiliária milionária e bilionária.
Nossas vidas, e as de nossas famílias, valem mais do que seus lucros, precisamos políticas reais para os problemas reais das maiorias populares, é hora de politicas socialistas. Por isso lutamos e nos organizamos.
Vem conosco fazer parte da brigada Mahatman Gandhi, vem lutar contra o despejo e gritar conosco “Tiradentes Fica”!
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