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Consumo, logo existo: Consumo, pertencimento e sofrimento psíquico no capitalismo

Por Henrique Vince, estudante de Psicologia e militante da Célula de Saúde da Revolução Socialista e Kauã Shimabukuro, estudante de Publicidade e militante da Célula de Estudantes e Trabalhadores da Revolução Socialista.


“Historicamente, o tratamento clínico e social dado aos sujeitos que apresentam algum sofrimento psíquico se relaciona com a cultura de cada época e com a forma vigente de exercer o poder” (Neves, 2023).


Estamos acompanhando uma das fases mais críticas do capitalismo, que se encontra em um estado grave de crise que não vemos desde 1929. Desemprego, precarização e uberização do trabalho, recessões econômicas, endividamento da população, fome. Tudo isso gera sofrimento e desespero, levando as pessoas ao adoecimento psíquico e suicídio.

Isso se trata das consequências de um sistema que mercantiliza tudo que está em sua volta; à terra, a água, o ar que respiramos, os seres humanos, o desejo, o sofrimento. Tudo com um único propósito: expansão do capital e acumulação de riqueza nas mãos de poucos.


O consumo está na base das nossas relações e na maneira como, enquanto sociedade, organizamos as nossas necessidades materiais. Ele representa um acesso básico à sobrevivência humana: alimentação, higiene, moradia, água, luz, etc. Baseada em seu propósito de expansão do capital, a lógica capitalista coopta essas necessidades para torná-las mercadorias e determinar quem pode ou não acessá-las. Essa relação também se sustenta pela dependência na venda da força de trabalho, frequentemente sujeita a precarização e alienação, de modo que o indivíduo possa sobreviver. Além disso, o capitalismo ultrapassa as carências materiais e explora aspectos psicológicos dos indivíduos, como satisfação pessoal, pertencimento, representatividade, empoderamento, reconhecimento e outras questões sociais. Esse modelo de produção, que visa otimizar o lucro e aumentar o capital acima de qualquer custo, apropria-se do consumo como ferramenta de dominação e poder, preservando a ordem e o controle sobre a classe trabalhadora. Afinal, você é o que tem no bolso!

Publicidade, pra que te quero?

Quando falamos de consumo, é impossível ignorar o papel central da publicidade, ferramenta essencial para a criação de muitas dessas demandas. O consumo, assim, se transforma em uma necessidade de pertencimento, e até mesmo em um gatilho para sintomas psíquicos.


Historicamente, a publicidade tem como função principal convencê-lo de que você precisa de coisas que, na realidade, não precisa. Embora existam produtos e serviços baseados em necessidades reais, grande parte do trabalho dos publicitários consiste em criar desejo – a vontade de ter e de pertencer por meio do que é oferecido. Um exemplo disso são as técnicas de exclusividade e escassez. Produtos limitados são propositalmente superfaturados para instigar no consumidor o desejo de ser único, exclusivo, de possuir algo que poucos têm.


A publicidade trabalha diretamente na produção do desejo, seja de ser, pertencer ou sentir. A série Mad Men, que retrata a "época de ouro" da publicidade, ilustra bem esse ponto. Em uma cena, o protagonista é questionado por uma mulher sobre o amor, ao que ele responde: "O amor foi criado por homens como eu para vender meias-calças." Quantos dos nossos afetos hoje não são capturados pelo consumo? Algumas das frases mais emblemáticas da publicidade exemplificam essa ligação entre consumo e sentimento: "Boticário – Onde tem amor, tem beleza", "Coca-Cola – Abra a felicidade". São exemplos de como o consumo se conecta a emoções e até à construção de padrões estéticos.


Essa proposta de trazer benefícios para além da sua funcionalidade é o que tem feito as marcas buscarem um propósito para motivar o cliente, para além do material, e estabelecer um vínculo com o consumidor. As grandes marcas se utilizam muito dessa abordagem, elas não te  vendem um produto tangível ou a prestação de um serviço contratado, elas te vendem uma experiência, têm total domínio sobre táticas narrativas e técnicas semióticas, se utilizando de um vasto conhecimento para criar sentimentalmente um vínculo entre o produto e o consumidor. Esse vínculo, além de nos impulsionar ao consumo, é uma forte ferramenta para estabelecer e reforçar padrões sociais que são pilares para o avanço e a manutenção do capitalismo: performance de gênero, padrões estéticos, modelo de família nuclear, heteronormatividade, racismo entre outros.


O comercial “Onde tem amor tem beleza” da Boticário, nos apresenta a história de um homem que aos 80 anos entra em um curso de maquiagem para aprender a maquiar a esposa que tem deficiência visual. Uma demonstração de cuidado e afeto com o outro, e nossa intenção não é invalidar a ação, mas que sem um olhar crítico, não percebemos a mensagem reforçada. Nessa peça publicitária temos o reforço da beleza ligada ao consumo de produtos, é válido dizer que não há nada de errado em cuidar da própria imagem, o problema é quando a nossa visão de beleza está diretamente ligada ao consumo de produtos, caso você não os consuma, você não tem vaidade. Até onde somos capazes de nos sentirmos bem com nossos corpos em uma sociedade que reforça padrões de beleza eurocêntricos e mercantiliza o bem-estar consigo mesmo? O Jornal da USP publicou uma matéria em 2021 trazendo dados que evidenciam o crescimento de mais de 140% na procura por procedimentos estéticos devido à pressão social. De onde vem essa demanda? As influências vêm de diversos lugares como a indústria cinematográfica e suas celebridades, a indústria da moda, a indústria pornográfica e outros setores que ajudam a construir um imaginário de beleza dependente do consumo de mercadorias e serviços estéticos. É evidente a necessidade de uma análise mais aprofundada para responder essa pergunta, porém, é necessário refletirmos sobre os agentes e os formadores das nossas demandas. E como ficam as pessoas que estão trabalhando e lutando para sobreviver, conseguir o básico para a dignidade humana e não dispõe de recursos financeiros para acessarem tais produtos ou procedimentos? Toda nossa diversidade e traços étnicos são valorizados ou apenas o ideal espelhado pelo colonizador? A insatisfação consigo mesmo pode resultar em sofrimento psíquico. Em um mundo de aparências no qual nem todos têm os mesmos acessos, seja a tempo ou a poder aquisitivo, é fácil não nos sentirmos objeto de desejo do outro, atraentes e dignos de sermos amados. Essa relação pode afetar não só nosso amor próprio mas também nossas relações afetivas. 


A publicidade é uma das ferramentas utilizadas por esse sistema para controle e disputa dos nossos desejos, afetos, identidade e imaginário político. O título deste texto é um convite e uma provocação para reflexão sobre a relação de consumo, existência e sofrimento psíquico, por tanto, se faz necessária uma breve análise do papel da publicidade na produção do desejo de consumo e na criação de novas demandas para mantermos esse sistema funcionando a pleno vapor, assim como apontarmos os efeitos sociais e sua influência na produção da cultura contemporânea.

Consumos de direitos básicos. Nem a dignidade humana escapa dessa. 

O acesso à moradia, saúde e educação é um exemplo de direito básico que é constantemente violado e mercantilizado para defender o interesse das instituições privadas. Serviços públicos e estratégicos de extrema importância sendo sucateados para forçar a narrativa de má gerência do estado, mascarando toda a movimentação para conduzir da pior forma possível o serviço público, e vender a privatização como a solução. A alegação de que a competitividade de mercado e que a gestão privada resulta uma melhor qualidade na entrega de tais serviços é pura falácia. 


Quando uma necessidade básica é transformada em mercadoria pela iniciativa privada, o foco não é mais fornecer a qualidade e o acesso a todos e sim gerar grandes montantes de dinheiro para seus investidores. Um bom exemplo foi o caso da ENEL em São Paulo:  muitas regiões da cidade ficaram mais de 72 horas sem energia, devido à ineficiência da gestão privada da ENEL, empresa responsável por fornecer energia elétrica para a capital. Se a prática é o critério da verdade, como disse Lenin, a privatização de setores estratégicos para o país só resultou em péssimas gestões, valores abusivos cobrados por acessos básicos e precarização do serviço fornecido. O lucro é privado mas o prejuízo é público.

Capitalismo e neoliberalismo: articuladores do sofrimento psíquico

A fase de avanço globalizada do modo de produção capitalista, o neoliberalismo, é uma dinâmica econômica e social que dirige toda essa conjuntura atual de destruição do planeta e saúde do ser humano, com um direcionamento sendo planejado pelo imperialismo global e adaptado em todos os territórios onde conseguem injetar suas dinâmicas de exploração no sangue da classe trabalhadora.


Instalou-se uma lógica individualizante da vida do sujeito, que acarreta em diversas questões quando nos referimos ao sofrimento psíquico.


Perpetua-se um modo de vida que alimenta uma necessidade imediata de consumo, principalmente de bens materiais que não necessitamos. Através disso, o modo de vida dos sujeitos gira em torno de uma dinâmica de performance individual (e competitiva) para que cada vez mais abrace essa satisfação e prazer por esse consumo para atender uma espécie de auto realização, o que causa adoecimento e esgotamento psíquico; cria-se uma característica onde não nos vemos reconhecidos e pertencentes à sociedade quando não nos encaixamos nessa lógica, quando não conseguimos consumir, toda essa nossa performance e produtividade vão para além de nossas capacidades materiais, e até mesmo físicas e mentais. A constante busca pelo bem material se sobrepõe ao bem-estar coletivo e absolutamente tudo se torna mercadoria, até mesmo o sofrimento gerado por isso.


“Na atualidade, vê-se uma homogeinização da vida dos sujeitos que, agora, devem ter um desempenho máximo em todas as áreas de sua vida, em uma produção continuada de felicidade irrestrita, que tem como principal modelo de modo de vida o atleta de alta performance” (Souza, 2021).


A busca por uma “felicidade irrestrita” é movida pela lógica capitalista neoliberal, um motor alimentado pela produção em massa e desenfreada de bens materiais. Essa força performativa molda nossos desejos e impacta diretamente na determinação e produção do sofrimento. Ela modifica identidades, valores e modos de vida que fazem com que os sujeitos se modifiquem a si próprios, e não somente o que lhes representa.


Ou seja, o neoliberalismo não somente gera o sofrimento psíquico, como também é responsável por todo seu gerenciamento. É necessário que nós possamos entender isso como um modo de vida acerca das dinâmicas do trabalho, da linguagem, do desejo. Tal forma é definida por uma questão política, que nomeia o mal-estar e cria estratégias específicas de intervenção sobre o estatuto social do sofrimento. O próprio sistema produtivo define a estrutura do sofrimento e quais as formas de lidar com ele.

Quando falamos em sofrimento psíquico, tudo se tornará rótulo?

Tudo se funde em um mesmo mecanismo, os diagnósticos de transtornos mentais - que muitas vezes ignoram as condições de classe social, violências de gênero, étnico-raciais e etc - responsabilizam de forma individual o sujeito pelo adoecimento e sua incapacidade de atender às normas de produtividade e sociabilidade em toda essa dinâmica neoliberal, isso se aplica para diversos transtornos descritos no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). O psiquiatrismo dentro do capitalismo está introjetado nessa dinâmica de individualização do sofrimento, se baseando em modelos pautados mais no aspecto biológico do sujeito, sob os mesmos moldes de quando se iniciou no século XVIII e XIX.  Há um abafamento das dinâmicas sujeito-civilização que foram se dando ao longo da história e todo um alinhamento com essas necessidades de performance e auto realização impostas pelo modo de produção. Dá-se diversos rótulos ao sofrimento, o capitalismo e seus agentes (classe dominante) se apropriam de todos eles para gerenciar toda uma norma de produtividade, criando as próprias medidas pautadas como solução para os problemas psíquicos.

Com base nisso elaboram-se medidas para amenizar o sofrimento psicossocial. Vemos contingências da vida sendo rotularizadas e com isso esgotam-se as capacidades de enfrentar conflitos interpessoais e socioeconômicos. Tudo isso torna-se uma tática que a classe dominante aproveita para que se mantenha a exploração constante dos trabalhadores e o abafamento das mobilizações populares que questionam as estruturas de poder e produção. 


“Assim, a forma depressiva, paranoica, melancólica e ressentida de sofrer é, antes de expressar uma doença natural, um modo subjetivo de responder às demandas e exigências da forma neoliberal de socialização”. (Dunker, 2021).


Podemos observar atualmente uma massa de adoecidos e muitas vezes medicalizados para atender essas lógicas sociais mercantis de hiper-produtividade que oferecem aos sujeitos uma mínima condição de prazer para reconhecimento de sua própria existência: o consumo.


E não se trata de ignorar os diagnósticos e como anda todo esse processo. Inclusive é necessário relevar muitos de seus aspectos, tal como promover estatísticas para mapeamento do estado mental da população, tratamento e redução da situação de adoecimento ou sintomas do sujeito, etc.


A questão principal é que precisamos urgente elevar o debate fora da esfera individual do ser humano e elencar quais as estruturas sociais que causam o adoecimento psíquico em nosso contexto histórico e cultural, como essas dinâmicas foram se formando ao longo do tempo e quais são as estruturas de poder que coloca o que é o sofrimento propriamente dito e como ele é gerenciado.

Espaços violentados e alta dos indicadores.

É nítido como o neoliberalismo violenta os padrões coletivos de vida através dessa lógica individualizante e consumista, quando por exemplo nos referimos aos povos originários. Além do adoecimento psicossocial causado por esses fatores, vemos também o crescimento desenfreado do suicídio entre essas populações. São constantemente expulsos de seus territórios e forçados a viver em um padrão de vida que é incompatível com suas raízes, além dos tensionamentos e violências sofridos por causa dos conflitos de terra.


Continuamos acompanhando cada vez mais o crescimento dos indicadores (suicídio, transtornos etc). Isso nos faz questionar as circunstâncias e qual modo de vida coletiva estamos construindo, será que o modelo hegemônico de clínica (o mesmo criado no século XIX, com suas adaptações) rodeado por padrões europeus, brancos e colonialistas realmente é capaz de lidar com as contradições desse sistema? Principalmente em territórios colonizados, como a maioria que se encontra na América do Sul, uma das várias periferias do capitalismo?


Essa discussão também se estende ao apagamento de outras formas de se viver e relacionar socialmente, ignorando outras possibilidades de nos organizarmos como coletivo e atribuindo naturalidade à lógica neoliberal. O modo de se viver do colonizador passa a ser dominante e qualquer outra forma é negada e caracterizada como primitiva, utópica ou antiquada. Essa denúncia tem representação material quando vemos a fala do ex-presidente Jair Bolsonaro, em uma gravação no YouTube com Tarcísio de Freitas, dizendo: “O índio mudou. Cada vez mais são humanos como nós”. Esse discurso desumaniza povos que culturalmente apresentam outras possibilidades de existir no mundo e condiciona a natureza humana ao jogo do capital. Os povos originários merecem respeito e sua importância histórica deve ser preservada e valorizada. Devemos aprender com suas práticas para construirmos formas de nos organizarmos conectados a proteção ambiental, valorização do coletivo e uma existência para além da lógica da acumulação.


A existência humana ser pautada pela ideologia neoliberal é danosa para nós e para o planeta em que vivemos. É tarefa revolucionária recusar essa forma de ver e entender o mundo como nossa única possibilidade, que busca desmobilizar e gerar aceitação das condições materiais e atribuir naturalidade às violências históricas promovidas pela classe dominante. Precisamos combater o discurso do individualismo e ampliar nosso imaginário político do modelo de sociedade que desejamos construir.

Políticas públicas e as contradições da farsa progressista.

No atual governo Lula-Alckmin, os processos e políticas continuam a manter as estruturas que transformam a saúde em mercadoria. Pior do que em governos anteriores, essa gestão não defende mais a saúde pública e continua favorecendo esquemas de privatização, não apenas na saúde, mas também na educação e em outras áreas que afetam diretamente aspectos da nossa saúde mental.


A farsa progressista e suas reformas não se sustentam, o processo de conciliação de classes do atual governo petista cada vez mais afunda as condições de vida da classe trabalhadora. O arcabouço fiscal (novo teto de gastos) limita em uma escala absurda os investimentos com a saúde pública e políticas de acolhimento com a saúde mental, isso já está em vigor, com tal dinâmica sendo articulada por Fernando Haddad e companhia. Enquanto isso, os gastos com a dívida pública engolem quase metade do orçamento que deveriam ser destinados a essas políticas, esses pagamentos servem apenas para encher o bolso de banqueiros e o grande empresariado, para que mantenham suas lógicas abusivas de acumulação de capital em cima do suor e sangue dos trabalhadores.


Além de todos esses fatores, essas figuras que se dizem em favor do povo silenciam-se sobre os adoecimentos causados pela precarização do trabalho, sobre as comunidades terapêuticas de cunho religioso que escravizam os internos, sobre as violências do capitalismo que provocam sofrimento e suicídio entre a população LGBTQIAPN+ e os povos originários. Ignoram a juventude preta e periférica, adoecida psicossocialmente e sem perspectiva de futuro pela ausência de políticas públicas e de acolhimento, destruídos pelo sucateamento.


Há inúmeras contradições, e não podemos negar que há políticas públicas que foram construídas nas últimas décadas onde até certo ponto contribuíram com a questão da construção de espaços de acolhimento psicossocial, tal como a implementação do sistema RAPS, SUAS, CAPS e outros. Mas, é importante ressaltar que tudo foi fruto de muita luta, mobilização popular e das categorias da saúde, tal como podemos acompanhar a história da reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial (que ainda está em vigor).


Porém, esses programas sofrem com um constante boicote, são completamente sucateados com as políticas de meta fiscal e engolidos pelo capital, não há condições materiais de se sustentarem nesse sistema comandado pela elite financeira. A crise do esgotamento do capitalismo sempre cai primeiramente sobre os mais pobres, com baixa dos salários, demissões em massa e sucateamento das políticas públicas, e as de saúde mental não fogem dessa esfera. Tudo para que se mantenha os altos níveis de lucro que vão para o bolso de uma parcela mínima de sanguessugas, uma classe social que se beneficia com o sofrimento alheio.


Precisamos urgentemente enfrentar o modelo manicomial e fortalecer as instituições de acolhimento psicossocial, combater as políticas de austeridade fiscal que engolem o orçamento da saúde e lutar por um processo revolucionário socialista que rompa com todas essas estruturas de poder.

O socialismo é a única opção para quebrar essa hegemonia.

Falar de uma revolução e de um futuro socialista, é falar da socialização dos acessos básicos. Todo trabalhador deve ter acesso a saúde, educação, alimentação, lazer, cultura, moradia e tudo que traga dignidade a nossa classe. É inadmissível e revoltante que vivemos em um mundo rico de recursos naturais, que estão sendo destruídos por uma lógica predatória de acumulação. Um modelo de produção que prefere destruir 30 mil hectares de vinhedos na França devido a baixa na demanda de vinho, mostrando a face das políticas neoliberais, enquanto uma a cada nove pessoas ainda vive a realidade da fome. As uvas não são só matéria prima para produtos como vinhos, são também alimentos que podem ser consumidos in natura e usados para produção de sucos, mas o que importa mesmo nesse sistema é não baixar o preço para manter o lucro, já que a proposta propõe “regular” o preço através da oferta. 


Nossa existência é condicionada ao quanto nós conseguimos pagar para tê-lá. A classe trabalhadora está cansada de trabalhar e ver seus direitos e acessos sendo esfarelados em suas mãos. O debate sobre sofrimento psíquico não pode ser afastado das relações materiais que nos atravessam. Precisamos ser protagonistas das políticas públicas e termos a garantia de um desenvolvimento coletivo, com todas as nossas necessidades asseguradas e que as nossas crianças não precisem se preocupar em ir para escola para garantir sua alimentação diária, mas sim para se alimentarem de afeto e conhecimento. Mais do que nunca é necessário nos organizarmos politicamente, buscarmos as lutas locais para avançarmos nas nossas pautas. Como já disse Fidel Castro: Um mundo melhor é possível, mas temos que fazê-lo possível. 


Além disso, é tarefa imediata dos revolucionários inflamar as mobilizações da classe trabalhadora para derrubada de todas essas estruturas de poder que nos adoecem, através da construção e fortalecimento do partido revolucionário, com políticas que direcionam a luta para um processo internacional e permanente. 


 

Referências:


SAFATLE, V.; SILVA JUNIOR, N.; DUNKER, C. (Org.). Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico.


COELHO, L.; NEVES, T. Sofrimento psíquico no neoliberalismo e a dimensão política do diagnóstico em saúde mental.


FOUCAULT, M. O nascimento da clínica.


SOUZA, V. J. A gestão neoliberal do sofrimento no diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).


WALTER, B.; WINKLER, C.; CRUBELLATE, J. O ideário taylorista, a gestão da subjetividade e o poder pastoral.

2 comentários

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Invitado
13 nov
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Importante refletir já sobre esses distintos aspectos do consumo e da luta! Excelente texto.

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Invitado
08 nov
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obrigado por proporcionar tal reflexão, otimo trabalho a todos envolvidos!

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