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AGOSTO – MÊS DO ORGULHO E DA VISIBILIDADE LÉSBICA

Por: Professora Suzete Chaffin

Foi preciso muita luta para reunir todo o orgulho lésbico para a construção do Dia Nacional da Visibilidade Lésbica – 29 de agosto. Nesta data, reivindicamos as que primeiro se expuseram, as que mostraram a cara dentro desta sociedade patriarcal, capitalista e racista, para o surgimento e fortalecimento do feminismo interseccional, que considera as diferenças de raça e classe social. Para pontuar este aspecto, o Coletivo Feminista Marielle Vive (CFMV) e a UNIDOS pra Lutar ouviram trabalhadoras feministas lésbicas, da região do Vale do Paraíba – São Paulo, sobre um pouco do que é viver na condição de diferente, causa de toda opressão sofrida por elas, e muitas outras.

 

Entrevista:

-CLAUDILANE SAMPAIO, é diretora do Sindicato dos Químicos de São José dos Campos e região e trabalhadora da empresa JOHNSON& JOHNSON (na foto à direita).

-CFMV – Você que é casada há 17 anos com Talita. Já sofreu discriminação por seu relacionamento homoafetivo?

CLAUDILANE – Sim, inúmeras vezes, principalmente no eixo familiar. O preconceito da minha família fazia com que achassem que eu só seria feliz tendo um casamento hétero e sendo mãe. Sem falar na preocupação financeira. Achavam que eu não teria capacidade para me sustentar e que meu futuro seria incerto. Minha irmã falava que não tinha problema a homossexualidade de outras pessoas, mas a minha ela não aceitava. No fundo, aquilo me incomodava. Mas isso foi no começo, depois fui criando meu espaço e me sentindo mais segura, não me importando com o que as pessoas pensavam e fui vivendo a minha vida.

Eles também foram se acostumando e respeitando a minha orientação sexual. Orientação, sim. Não aceito que considerem opção. Não optamos!

 

-CFMV – Tem algum fato de preconceito ou discriminação que você possa nos contar?

-CLAUDILANE – Nos anos 1990 eu frequentava um barzinho perto do meu trabalho, que era frequentado por pessoas de diferentes ideologias. O bar foi vendido e o novo proprietário chegou na mesa em que eu estava com uma amiga e falou que ele deixaria que nós frequentássemos o bar, porque éramos discretas, mas o restante ele iria proibir. Aquela situação me deixou muito triste e nunca mais voltei a esse bar. Fiquei com tanta raiva, que nem tive disposição para enfrentá-lo.

Outra situação que me marcou muito, foi nos anos 90 também, eu trabalhava em uma multinacional e não era assumida para minhas colegas de trabalho. Lá também trabalhava uma moça que não era muito feminina. As minhas colegas viviam incomodadas com a presença dela no vestiário. Diziam que essa moça ficava olhando elas trocarem de roupa, sendo que eu sabia que era mentira. Essa situação me deixou com medo da maldade e do julgamento das pessoas.

 

-CFMV – Qual a importância da visibilidade lésbica no ambiente de trabalho?

-CLAUDILANE – Hoje sinto que avançamos muito na conquista de direito à igualdade, mas ainda falta um longo caminho a ser percorrido. A visibilidade no ambiente de trabalho é muito importante, pois encoraja outras pessoas a se assumirem e faz a sociedade nos aceitar como somos, com liberdade para amar. A coragem que tenho hoje foi construída depois de muita luta, pois tinha medo me prejudicar de alguma forma no trabalho pelo fato de ser lésbica. Hoje sei que não estou só, que há muitas pessoas dispostas a lutar comigo por uma sociedade mais justa, igualitária, sem preconceito, sem racismo, machismo, lesbofobia ou homofobia.

 

-FRANCIELE LAURENTINO, é diretora do Sindicato dos Químicos de São José dos Campos e região e trabalhadora da empresa VETCIA.

-CFMV – E você, Franciele, o que pode nos dizer?

-FRANCIELE - Presenciei um fato de preconceito com duas pessoas gays, no qual os rapazes estavam de mãos dadas e passou um carro com outros rapazes, que gritaram “Temos que acabar com essa raça! São lixos para o mundo”. Aquilo me impactou muito.

Um tempo depois, eu mesma fui vítima de preconceito e discriminação. Estava em um restaurante e me levantei para ir ao banheiro. Estava usando um boné. E quando fui entrar no banheiro, o segurança do estabelecimento gritou comigo dizendo “Ei, você é homem. Tem que ir no banheiro de homem”. Respondi, com toda a educação do mundo, que ele estava confundindo, pois eu era mulher e não homem. E, mesmo assim, ele insistiu dizendo que eu era homem. E que para ser mulher tinha que ter cabelo grande e não curto. Tinha que me vestir como mulher, e que eu era uma vergonha para a sociedade. Imagine!

Em outra ocasião, em um dos meus empregos, na entrevista me questionaram o porquê do cabelo curto. Eu disse que gostava, pois me sentia bem. Naquela entrevista, a pessoa do RH disse que não tinha passado no processo seletivo por ser lésbica e que eles não aceitavam homossexuais, pois seria vergonhoso para a empresa.

Hoje sei que é importante que a sociedade compreenda que a população LGBTQIA+ é como qualquer outro segmento: tem seus problemas e suas soluções. No Brasil, todo mundo tem uma receita de como homossexuais devem se comportar, agir e viver suas vidas. Mas é importante que a sociedade não tome conta da vida de pessoas LGBTQIA+, mas mantenha o respeito como base principal. A internet está cheia de informações para que as pessoas deixem de ouvir a opinião dos outros e pensem por elas próprias. Nossa existência é nossa luta, cotidiana, pelo livre direito de amar. Vivemos e lutamos contra o capitalismo e toda forma de opressão.

 

O Coletivo Feminista Marielle Vive e a Unidos pra Lutar agradecem às companheiras por seus depoimentos. E reitera sua posição de apoio e solidariedade a todas as lésbicas que se impõem nesta sociedade patriarcal e capitalista. Nosso Coletivo atua no sentido de levar conhecimento e empatia à classe trabalhadora, por isso, insistimos para que os sindicatos sejam ferramentas de luta em defesa da população LGBTQIA+, vítima da violência homofóbica, racista e machista.

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